O brasileiro está vivendo mais, e isso é bom. Segundo o IBGE, de cada mil pessoas que alcançam os 60 anos, 579, ou seja, mais da metade, chegarão aos 80. Para os que atingirem os 80, há a perspectiva de mais 8,3 anos de vida para os homens e 9,9 para as mulheres. E quem nascer em 2060 terá perspectiva de viver 81,2 anos. Hoje a média é de 75,7 anos.
A má notícia é que vai ser preciso mais dinheiro para desfrutar a velhice. A longevidade traz o que os estudiosos chamam de risco de sobrevivência, que é quando se vive mais do que as economias. É o “efeito Jorginho Guinle”, o playboy carioca que se orgulhava de nunca ter trabalhado e de ter namorado as grandes estrelas de Hollywood. Ele calculou que chegaria no máximo aos 80, e se planejou para gastar o que tinha até lá. Morreu aos 88, vivendo do favor dos amigos.
Pela chamada tábua de mortalidade do IBGE, a população brasileira ganha três meses de vida a cada ano, afirma José Roberto Savoia, professor da Saint Paul Escola de Negócios e exsecretário de Previdência Complementar. Ou seja, um ano a mais a cada quatro anos.
O Brasil acompanha a tendência mundial. A perspectiva de vida média após os 65 anos nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) deve passar de 15 anos hoje para 21,9 anos no caso dos homens e de 20 para 25,8 anos no das mulheres em 2060. No Brasil, o salto será parecido, de 16,6 para 21,1 anos entre os homens e de 19,7 para 24,6 anos entre as mulheres.
A questão se torna um problema para a Previdência Social e para os fundos de pensão, que têm inúmeros planos de benefício definido, que garantem determinado valor até o fim da vida do participante. O problema foi em parte resolvido com a criação dos planos de contribuição definida, nos quais a pessoa calcula quanto tem de juntar para viver determinado período. O plano elimina o risco de sobrevivência dos fundos, diz Savoia, mas não resolve o problema dos fundos antigos nem das pessoas.
A longevidade é hoje o grande problema de qualquer sistema previdenciário, diz Jose Ribeiro Pena Neto, presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Uma saída para os planos em funcionamento é aumentar a contribuição dos participantes. Outra é postergar a data de aposentadoria, o que exige mudanças nos regulamentos. Outra, ainda, é buscar aplicações de maior rentabilidade, mas que podem trazer mais risco ao fundo.
Por isso, os novos planos dos fundos de pensão são feitos na modalidade de contribuição definida. Se quiser receber por mais tempo, o beneficiário terá de guardar mais, postergar a aposentadoria ou receber menos, mas correrá o risco de errar na conta. Uma opção seria comprar um seguro que garanta um benefício até a morte, uma renda vitalícia. Mas isso, além do custo adicional, não é oferecido pelas seguradoras brasileiras, lembra Pena, que espera que essa dificuldade abra uma ligação entre os setores de seguros e de fundos de pensão, como ocorre no exterior.
Prevendo o aumento da longevidade, o mercado de previdência já trabalha hoje com tábuas atuariais com idades mais altas, afirma Alessandro Gonçalves, diretor comercial da Nunes e Grossi. Hoje, a tábua mais antiga, a AT83 prevê 82,6 anos para homens e 86,2 anos para mulheres, e a AT2000, 83,6 para os homens e 86,5 para as mulheres. “Elas já estão ajustadas para os próximos 10, 15 anos”, acredita. Mesmo assim, com o aumento da longevidade, as empresas de previdência devem trabalhar com cenários mais conservadores na hora de oferecer planos aos clientes, diz Mauro Machado, consultor sênior de Previdência da consultoria Mercer.
No caso da Fundação Cesp, os planos de benefício definido representam 90% do total, afirma Euzébio Silva Bonfim, diretor de Previdência. Hoje, a tábua atuarial da Cesp está próxima de 85 anos, quase sete anos a mais do que há 15 anos. “Considerando nossa folha de pagamento, de R$ 2 bilhões por ano, isso representa R$ 14 bilhões que teríamos de arrumar nos próximos 15, 20 anos”, diz Bonfim.
Fonte: Valor Econômico