
têm uma postura negativa”
Na tarde de 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão, localizada na cidade histórica de Mariana (MG), foi responsável pelo lançamento no meio ambiente de 34 milhões de m3 de lama, resultantes da produção de minério de ferro pela mineradora Samarco empresa controlada pela Vale e pela britânica BHP Billiton. Seiscentos e sessenta e três quilômetros de rios e córregos foram atingidos, 1.469 hectares de vegetação, comprometidos, e 207 de 251 edificações acabaram soterradas apenas no distrito de Bento Rodrigues. Em questão de horas, a lama chegou ao rio Doce, cuja bacia é a maior da região Sudeste. Esses são apenas alguns números do impacto do desastre, já considerado a maior catástrofe ambiental da história do Brasil. Entretanto, não foram os únicos efeitos da tragédia de Mariana. Segundo especialistas, o rompimento da barragem tem influenciado o mercado de seguros para grandes obras como um todo.
Grandes sinistros elevam a percepção de risco das seguradoras e os prêmios aumentam”, afirma João Carlos Mello, presidente da Thymos Energia, que lembra, que, na época dos episódios das torres gêmeas nos EUA (11 de setembro de 2001) ocorreu a mesma coisa com os prêmios nos seguros para obras, inclusive no Brasil.
De acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), em 2014, os prêmios diretos de riscos de engenharia foram da ordem de R$ 578 milhões, enquanto em 2015, foram de R$ 504 milhões. Comparando o período de janeiro a abril de 2015 e 2016, houve queda de 45% (R$ 241 milhões contra R$ 133 milhões).
Logo após o rompimento da barragem em Mariana, o mercado de seguros de engenharia ficou mais cuidadoso, analisando melhor os projetos de construção, incluindo os programas de manutenção e a condição estrutural das barragens, de acordo com Jorge Lombardi, diretor de property & construction da XL Catlin Brazil, uma das maiores seguradoras do mundo na área de grandes riscos e riscos complexos.
“Informações mais detalhadas são requeridas agora e como pontos mais críticos e importantes precisamos olhar: estudos geológicos e geotécnicos, diretrizes preconizadas pelo International Commission on Large Dams, histórico de chuvas e enchentes, hidrogramas, análise e gestão de riscos, relatórios e laudos técnicos”, explica Lombardi.
Na sua opinião, o acidente em Mariana afetou principalmente as linhas de negócios de seguros de responsabilidade civil, propriedades e riscos ambientais. “Seguramente novos procedimentos nas análises existentes serão avaliados pelas seguradoras. Neste sentido é importante estabelecer e melhorar as formas de gerenciamento, controle, acesso às informações pertinentes para que as coberturas não sejam reduzidas ou afetadas”, acredita.
Além disso, segundo ele, as seguradoras deverão desenvolver coberturas ainda desconhecidas pelo mercado. “Historicamente, o mercado tem coberto eventos catastróficos como este, e não podemos nos esquecer também do caráter social das apólices de seguros que têm como principal objetivo restabelecer a condição anterior ao evento”, diz Lombardi.
Quando se fala em grandes obras de infraestrutura, critérios como competência técnica da construtora, conhecimento em relação ao projeto, valor do contrato, tempo de duração de execução da obra, localização da obra e relação com a vizinhança e segurança do trabalho são alguns dos critérios considerados para avaliar o risco do empreendimento.
“As tragédias como de Mariana, de 11 de setembro e do metrô de São Paulo, por exemplo, trazem grandes oportunidades de evolução e adequação. Infelizmente, os mercados mais conservadores se retraem e têm uma postura negativa”, diz Marcio Guerrero Cargo, presidente da Comissão de Responsabilidade Civil Geral da Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg).
De acordo com ele, alguns grandes sinistros indenizados adequadamente fortaleceram a indústria e até contribuíram para o aumento de taxas e lucratividade do mercado de seguros e, principalmente, de resseguros, uma vez que acidentes de infraestrutura sempre possuem muita capacidade de resseguro.
“Após o evento, o mercado tem observado com mais atenção riscos e empreendimentos cuja atividade é mineração e/ou que possuem barragens. Importante mencionar que esse acidente ocorreu em uma barragem existente que estava em processo de alteamento, o que é comum em projetos de sistemas de contenção de rejeitos. Portanto não se trata somente de um sinistro de obra, seguramente a obra foi afetada, mas a causa não foi a obra”, observa Renato da Cunha Bueno Marques, coordenador da comissão técnica de resseguros do Sindicato dos Corretores de Seguros, de Empresas Corretoras de Seguros, de Resseguros, de Saúde, de Vida, de Capitalização, de Previdência Privada no Estado de São Paulo (SincorSP).
Fonte: Valor Econômico