A Petros, fundo de pensão dos funcionário da Petrobras, vai ter muita parcimônia antes de voltar a realizar investimentos de longo prazo em companhias abertas, o chamado investimento em participações. A afirmação é do presidente da fundação, Henrique Jäger. Hoje, ele conta, os executivos do fundo se reúnem para discutir formas de tornar mais ágil a negociação dessas participações. “Depois do que está ocorrendo com a Dasa, em que vimos a facilidade com que um controlador retira uma empresa do Novo Mercado, decidimos reavaliar nossa política de investimentos em participações daqui para a frente”, diz.
Conforme a resolução nº 3.792 do Conselho Monetário Nacional (CMN), diz, os fundos de pensão só devem investir em empresas listadas nos níveis diferenciados de governança da BM&FBovespa. Como a Dasa deixará o Novo Mercado, o entendimento do fundo é de que será obrigado a se desfazer da posição. “Fizemos uma consulta à Previc [regulador dos fundos de pensão] para saber se de fato somos obrigados a vender e em que momento”, afirma. Na avaliação de Jäger, esse movimento colocou em xeque toda a política do fundo. “Os fundos de pensão entram nas companhias com pensamento de longo prazo, uma agenda de governança, colocam conselheiros e buscam a profissionalização da gestão. Mas, por definição, seremos sempre minoritários. E, como se vê no episódio Dasa, ficamos à mercê de uma decisão de um controlador definir a nossa saída do investimento”, afirma.
Por conta disso, ele diz que a Petros vai olhar com muito mais cuidado o investimento de longo prazo em companhias abertas. “Tendemos a evitar a exposição a empresas com controlador para afastar esse risco. Isso é uma pena, pois será uma perda para a evolução da governança no país, para as companhias e também para a fundação, uma vez que para ela o investimento de longo prazo é importante”. O mais provável, diz Jäger, é que a Petros opte por analisar só as empresas que não têm controlador, as chamadas corporações, um universo muito pequeno na bolsa brasileira, que contará menos com esse investidor.
Jäger diz que a fundação avaliou a carteira atual de participações e não identificou em nenhuma das empresas risco de repetição do episódio Dasa. Ainda com relação a esses investimentos, a Petros quer dar também mais agilidade às decisões. “Hoje teremos uma reunião para discutir alçadas. A decisão sobre compra ou venda de participações tem de passar pelo nosso conselho deliberativo, que se reúne mensalmente. No entanto, o mercado é dinâmico e existem oportunidades em determinadas janelas que abrem e fecham rapidamente e que não podem esperar por essas reuniões”, diz. Na reunião de hoje, a Petros vai buscar novas regras que façam que essas decisões não precisem esperar as reuniões do conselho.
Jäger afirma que nas últimas semanas a fundação foi procurada por bancos internacionais que manifestaram o interesse de alguns investidores em comprar participações do fundo em companhias abertas, sem revelar nomes. Mas alguns, como BRF, Itaúsa e Iguatemi, circularam no mercado. “Nós recebemos essas ofertas com alguma frequência e sempre analisamos. Mas hoje não há nenhuma decisão tomada no sentido de vender qualquer ativo. Nós constantemente estamos avaliando oportunidades de investimento e desinvestimento em todos os ativos. O que queremos agora é dar mais agilidade a essas decisões. ”
Nos próximos dias deverá sair laudo de avaliação da Dasa, que definirá se a oferta irá ou não adiante. Pelas regras do Novo Mercado, a empresa pode se desligar quando quiser, basta lançar uma oferta para todos acionistas. Jäger aponta que a empresa viveu um debate interessante. “O conselho avaliou a oferta e afirmou que a saída do Novo Mercado não era o melhor para a companhia. No entanto, ela está acontecendo apenas porque o controlador quis assim”, disse. A Petros protestou contra a decisão à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a à BM&FBovespa. “Houve um envolvimento da CVM no debate, mas a bolsa foi muito passiva”, afirmou.
Valor Econômico