
The Wall Street Journal – Com o Brasil assolado por uma seca, baixo crescimento econômico e o escândalo de corrupção na Petrobras, as empresas que operam no país não têm muitas razões para estar otimistas.
Os economistas estimam que o produto interno bruto do Brasil vai se contrair 1,18% neste ano e crescer apenas 1% em 2016. Enquanto isso, a Petrobras é alvo de uma investigação sobre centenas de milhões de dólares supostamente desviados dos cofres da estatal por algumas das maiores construtoras do país. E uma seca está ameaçando o fornecimento de água em São Paulo, que responde por 40% da produção industrial brasileira.
Tudo isso torna o momento atual difícil para as empresas brasileiras, depois de a economia do país, impulsionada pelo boom das commodities, ter alcançado um crescimento de 7,6% em 2010, mas perdido fôlego desde então. Diante das más notícias e das incertezas, as esperanças de que o Brasil se tornaria uma superpotência econômica se dissolveram. Executivos e investidores dizem que a confiança em relação às empresas brasileiras dentro e fora do país é a pior em anos.
“A economia do Brasil parece uma galinha tentando voar. Ela levanta voo, mas aí cai”, diz Bruno Caetano, diretor sênior do Sebrae, em São Paulo. Os lucros das pequenas empresas recuaram entre 2013 e 2014 devido a impostos e juros mais altos, e muitos fabricantes resolveram abrir instalações na China ou se tornar importadores, diz ele.
Carlos Tilkian, diretor-presidente da Manufatura de Brinquedos Estrela, a maior fabricante de brinquedos do país, está entre os executivos que estão pouco otimistas. Os custos altos no Brasil o levaram a terceirizar a manufatura na China e 35% de suas vendas são agora geradas no exterior, incluindo uma parte na Turquia e na Rússia. Ele diz que a mudança ajudou a empresa a se proteger do aumento no custo da energia no Brasil, embora o enfraquecimento do real tenha anulado algumas dessas economias com importações da China. A moeda brasileira já caiu 13% em relação ao dólar desde o início do ano.
Diante da desaceleração econômica, queda no consumo e polarização política, “temos um cenário de incerteza”, diz Tilkian. “Minha maior preocupação é a situação política, que pode trazer maiores dificuldades e tornar os consumidores mais cautelosos.” A incerteza também está gerando tensões, com brasileiros saindo às ruas nas últimas semanas para protestar contra o que muitos veem como uma corrupção generalizada e má gestão da economia pelo governo da presidente Dilma Rousseff.
Axel Christensen, diretor administrativo e estrategista-chefe de investimento da gestora americana Black Rock na América Latina, diz que viajou ao Brasil recentemente e “só foi capaz de encontrar dois grupos de investidores: os pessimistas e os muitos pessimistas”. Mas o real desvalorizado poderia ser uma oportunidade para alguns, inclusive empresas voltadas para a exportação, diz Christensen. “Não vamos ver o superciclo de commodities que vimos em anos anteriores, mas o Brasil tem empresas e setores que estão mais dentro do espaço de valor agregado em termos de exportações.”
Enquanto isso, muitas empresas continuam otimistas quanto às perspectivas de longo prazo do Brasil. A Coca-Cola, por exemplo, engarrafadora da empresa americana de bebidas na América Latina, anunciou neste mês que vai ampliar em 50% seus investimentos anuais no Brasil, para US$ 852 milhões, e que planeja abrir três novas fábricas de engarrafamento no país, apesar das preocupações com a economia.
Cássia Carvalho, diretora executiva do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, diz que os problemas preocupam seu grupo que conta com 110 membros, formado por empresas de vários setores que investiram um total de centenas de bilhões de dólares no Brasil. Mas “o governo brasileiro está tomando as medidas necessárias para trazer o equilíbrio e o crescimento de volta”, diz ela. “O Brasil continua sendo um mercado importante e interessante para os investidores dos EUA. Não há, absolutamente, como recuar.”
Ainda assim, os problemas recentes agravaram o custo já alto de fazer negócios no Brasil. A falta de água em São Paulo, por exemplo, vem forçando as geradoras de energia a uma dependência maior da energia térmica para economizar a água nos reservatórios das hidrelétricas, que respondem por cerca de 65% do fornecimento de energia elétrica no país. Para pagar por isso, as geradoras recentemente elevaram as tarifas em quase 30% em algumas áreas. As empresas dizem que já estão sentindo os efeitos.
Luis Curi, vice-presidente da montadora chinesa Chery Automobile Co. no Brasil, diz que as contas de luz da empresa subiram 21% entre 2009 e 2014, mesmo antes desse último aumento nas tarifas.
“A questão da eletricidade é uma preocupação porque a energia é importante na nossa estrutura de custos e já estamos sentindo o aumento”, diz Curi.
A empresa completou recentemente a construção de duas fábricas em São Paulo, um investimento de US$ 530 milhões. “Nosso projeto está totalmente planejado com base na estimativa de custo para o primeiro ano de operação e nossos custos de energia estão bem mais altos do que o projetado”, diz o executivo. “Está me tirando o sono.”
“Quatro anos atrás, o Brasil era o favorito dos investidores e todo mundo pensava que ele passaria de ‘o país do futuro’ para o ‘país do presente’, mas isso não aconteceu”, acrescenta Curi. “Isso gerou uma enorme frustração.”
Marcelo Haddad, diretor executivo da Rio Negócios, uma agência financiada pelo governo e criada para ajudar a trazer investimentos para o Rio de Janeiro, diz esperar que as Olimpíadas mostrem ao mundo que, apesar dos problemas recentes, o Brasil é um mercado importante que não é nem um pouco mais difícil que outros mercados emergentes, como a Índia.
“Esses não são necessariamente tempos eufóricos”, acrescenta ele, “mas é uma época para se ter uma visão de longo prazo sobre como investir num país como o Brasil, onde o ambiente de negócios é um pouco mais difícil”.