Mercado já revê projeção para Selic

Serrano, da Besi: Revisão da projeção de alta da Selic para 0,5 ponto em junho.
Serrano, da Besi: Revisão da projeção de alta da Selic para 0,5 ponto em junho.

O tom mais duro do diretor de política econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, nas reuniões com economistas realizadas nesta semana parece ter convencido o mercado de que a autoridade monetária está determinada a buscar o centro da meta de inflação, de 4,5%, em 2016. Essa leitura reforçou as apostas na continuidade do ritmo de aperto monetário na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em junho, e alguns economistas já revisaram as projeções para a taxa Selic.

Na curva de juros, a aposta no aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic em junho está consolidada. Os contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) ainda refletem um aumento adicional de 0,25 ponto na reunião de julho. Ontem, a taxa do DI para janeiro de 2016 subiu de 13,82% para 13,83%. Já as taxas dos contratos mais longos devolveram parte dos prêmios recentes e recuaram.

O Besi foi uma das instituições que alteraram a projeção para a taxa Selic após os comentários mais “hawkish” (inclinado ao aperto monetário) do BC e prevê agora aumento de 0,5 ponto percentual em junho, além de uma alta final de 0,25 ponto em julho, com a taxa básica encerrando o ano em 14%. “O discurso do Awazu na apresentação do Boletim Regional na sexta-feira passada, já tinha sido em tom mais duro e a percepção do mercado é que o BC vai fazer de tudo para trazer a inflação para a meta e o ciclo de aperto monetário será mais extenso”, diz Flavio Serrano, economista sênior do Besi Brasil.

Em encontro com economistas no Rio de Janeiro  ontem, o diretor de política econômica do BC manteve o discurso mais duro apresentado nas reuniões realizadas em São Paulo, na segunda-feira, e foi enfático ao falar da necessidade da autoridade monetária se manter “vigilante” contra a inflação. Essas reuniões servem para colher impressões que costumam ajudar na elaboração do Relatório Trimestral de Inflação.

Segundo relatos dos participantes do encontro no Rio de Janeiro, o diretor do BC destacou mais uma vez que o esforço da autoridade monetária é fazer com que a inflação convirja para o centro da meta, de 4,5%, no próximo ano. Para tanto, é fundamental que as expectativas de inflação cedam. Apesar da atividade fraca, economistas que estiveram no encontro com o BC ontem ainda veem uma resistência para a queda das expectativas de inflação para 2016, segundo relatou um participante da reunião.

Economistas argumentaram que a inflação de 2015 tem surpreendido para cima e pode subir mais diante de novos aumentos de impostos esperados para este ano. No último Boletim Focus, a mediana das projeções dos analistas para o IPCA em 2015 estava em 8,31%. O diretor do Banco Central também se mostrou preocupado com a desaceleração do mercado de trabalho. Contudo, parte dos economistas se mostrou cética em relação ao impacto dessa desaceleração sobre a inflação de serviços, acreditando que esse enfraquecimento ainda vai demorar um tempo para ter efeito nos índices de preços.

A implementação do ajuste fiscal será um fator importante para ajudar o BC a conduzir a convergência das expectativas de inflação para 2016 em direção ao centro da meta. Investidores acompanham a votação das medidas do pacote de ajuste fiscal previstas para esta semana, entre elas a votação da Medida Provisória (MP) 668 na Câmara, que trata da tributação de produtos importados, e o projeto de Lei 863/15, que reduz o benefício fiscal  de desoneração da folha de pagamentos concedido a 56 segmentos econômicos.

Novas dificuldades do governo para aprovar as medidas de ajuste fiscal podem dar um novo impulso ao dólar. Ontem, a moeda americana subiu 0,80%, para encerrar a R$ 3,0414. O movimento no mercado interno acompanhou a alta da moeda americana no exterior.

juro