Fundos de pensão: mitigação de perdas

Humberto Tupinambá e Marcelo Flora
Humberto Tupinambá e Marcelo Flora

Com a crise da Petrobras, fundos de pensão e gestores avaliam formas de mitigar perdas e estancar novos investimentos no setor

Com o agravamento da crise na Petrobras deflagrada pela operação Lava Jato, os fundos de pensão estão se movimentando para evitar perdas em suas carteiras relacionadas com o setor. As assets também estão avaliando cessar investimentos em empresas da cadeia de óleo e gás, sendo que alguns fundos já foram fechados, devolvendo o capital aos cotistas.

Levantamento da consultoria Economática aponta que mais de R$ 9 bilhões em ativos de empresas de infraestrutura, ligadas à cadeia de óleo e gás, estejam espalhados pela indústria de fundo. A maior parte está alocada em crédito privado e fundos de participação, valor que soma mais de R$ 7 bilhões em 217 veículos. Já em fundos de recebíveis, os Fidcs, há cerca de R$ 1,2 bilhão.

A um passo de pedir recuperação judicial, a OAS, uma das empreiteiras sob investigação, possui mais de R$ 1,6 bilhão emitido em ativos de crédito privado no mercado, segundo dados da Cetip. Cotistas já reclamam de falta de pagamento dos juros dos ativos e temem a concordata. Já a Petrobras tem R$ 800 milhões em debêntures, emitidas em maio do ano passado, que vencem em 2020. Em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), estima-se que a estatal tenha mais de R$ 1,2 bilhão espalhado por fundos de investimentos do país. Também estão sob investigação as empreiteiras Camargo Corrêa, Mendes Junior, UTC, Engevix, Iesa, Odebrecht e Galvão Engenharia.

Para as fundações de previdência, o que mais deve gerar preocupações é o crédito privado e os fundos estruturados, segundo avaliação de Lauro Araújo Neto, da LAS Consultoria, especializada em fundos de pensão. “Cerca de 0,5% do patrimônio dessas entidades está alocado em ações da Petrobras. Mas em renda fixa, por meio de crédito privado, a exposição é muito maior”, analisa. No âmbito das carteiras alternativas, não apenas dos Fips ligados à cadeia de óleo e gás serão afetados, mas também de infraestrutura de forma geral.

“A Petrobras é um player bastante relevante no fomento de investimentos produtivos do país. A retirada desse gigante de cena, mesmo que por pouco tempo, vai impactar toda a economia e o mercado financeiro”, diz o consultor. A crise da estatal tem provocado também uma paralisia do mercado de ativos crédito privado. São poucas as emissões realizadas em 2015. As fundações, ainda que algumas busquem prêmios maiores em ativos de crédito privado, em sua maioria estão demonstrando maior aversão ao risco (ver matéria na edição), e relação a novos investimentos que tenham alguma correlação com a cadeia de óleo e gás.

Os Fips que aplicam recursos em empresas do setor, e que contam com pesados investimentos de fundações, têm gerado mais preocupações. Um exemplo é o Fip Sondas, que investe na empresa Sete Brasil e tem como cotistas os grandes fundos de pensão – Petros, Funcef, Previ e Valia, além de bancos como o BTG Pactual e o Bradesco.

De forma geral, Marcelo Flora, sócio do banco e responsável pela área de distribuição, afirma que a exposição da instituição a ativos de risco é baixa. “Exceto pela Sete Brasil, seja em Fips, fundos de renda fixa ou multimercados, não temos nenhuma exposição relevante a esse caso. Temos mais de R$ 150 bilhões em ativos sob gestão na nossa carteira consolidada. Já a posição que temos hoje na Camargo Correia, por exemplo, não passa de R$ 100 milhões. A holding é bastante diversificada, então estamos confortáveis com esses ativos”, explica.

Fuga de ativos – O diretor da área de risco de um fundo de pensão de grande porte, que preferiu não se identificar, informou à Investidor Institucional que vem se reunindo com gestores de fundos para impedir a liberação de novos aportes em dois Fips de óleo e gás, mesmo para contratos já assinados. Um deles é do BTG Pactual e outro do Santander. A fundação tem R$ 70 milhões comprometidos, valor que pretende manter congelado por tempo indeterminado.

Após uma operação de pente fino em todas as carteiras da instituição, que somam cerca de R$ 12 bilhões, descobriu-se que 2,1% do patrimônio está atrelado a ativos hoje considerados temerários por conta da crise na Petrobras. “O rebaixamento da Petrobras, o atraso na divulgação do balanço auditado, a insolvência de muitas das empresas envolvidas nas investigações. Tudo isso coloca em risco a capacidade de retorno dos investimentos. Não acredito que Petrobras vá quebrar. Mas a operação toda tem um efeito em cadeia muito prejudicial para todo o segmento de infraestrutura”, afirma a fonte.

Sem recursos para cumprir com promessas de investimento, e com dificuldade de conseguir novos créditos no mercado após o ‘downgrade’ feito pela Moody’s, a estatal pode paralisar muitos projetos. Isso tende a esgotar a principal fonte de receita de muitas empresas pequenas e médias da cadeia. Sem caixa, elas podem ficar sem meios de pagar financiamentos concedidos por bancos. As financeiras podem ter de elevar provisões com perdas, o que fará com o que o crédito, propulsor de grande parte dos investimentos em infraestrutura do país, encolha.
“Os gestores com quem conversamos concordaram em cessar novos aportes. Ainda não sentimos necessidade, portanto, de acionar nosso departamento jurídico para congelar investimentos. Mas faremos o que for possível para não elevar ainda mais nossa exposição ao risco Petrobras”, afirma a fonte.

Reação – De olho em indícios de que ativos do setor de óleo e gás poderiam gerar problemas no futuro, a Brasil Plural resolveu encerrar o Fidc Fornecedores Petrobras no final de 2012, um ano após aberto o veículo, que havia captado R$ 300 milhões. Novos investimentos foram estancados e o dinheiro dos cotistas foi devolvido. Hoje, o fundo conta apenas com R$ 5,7 milhões, metade pertencente à Brasil Plural e metade à Petrobras, ambos detentores das cotas subordinadas do fundo.

O veículo investia em 46 empresas de óleo e gás. “O fluxo de performance dos ativos não estava bom e o fundo se revelou insatisfatório. Temos vetado qualquer investimento no setor desde então”, afirma Humberto Tupinambá, sócio da Brasil Plural. Para o executivo, o segmento não tem performado bem há alguns anos e não há expectativa de melhoras nesse cenário. Pelo contrário, com a operação Lava-Jato, a tendência é que as empresas de médio e pequeno porte, que tinham contratos com as grandes (hoje alvo de investigações), sofram ainda mais.

“O simples fato de termos suspendido acesso a recursos para as menores, com o fechamento do fundo, é um exemplo de como o segmento vem sendo afetado. Sem caixa, elas também não conseguem acessar crédito com os bancos e muitas já chegaram a falir nesse processo”, diz. Tupinambá considera “prematuro” voltar a investir na cadeia de óleo e gás.
Paulo Rezende, gestor do Fip Brasil Óleo e Gás, da Valora Investimentos, discorda. Para ele, a queda das grandes empresas pode favorecer as menores, sempre ofuscadas em licitações de peso – hoje, sabidamente, devido a esquemas de corrupção.

Lançado em 2012, o veículo captou R$ 500 milhões, dos quais R$ 150 milhões estão aportados na DSB Holding, que possui sob seu guarda-chuva a Bravante e a Deepcsea Supply. “Estamos negociando com mais três empresas”, diz. “Nunca investimos nas companhias que hoje estão no foco das investigações. Antes de fechar negócio, avaliamos muito a estrutura dos ativos e a qualidade dos sócios. Por esses dois motivos, aquelas companhias não nos interessaram”, complementa.

Fonte: Investidor Institucional