Fundos de pensão vão alavancar investimentos privados no país

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São Paulo – Num cenário de possível restrição de crédito mais barato dos bancos públicos e com bancos privados mais seletivos por conta do aumento da inadimplência e da preocupação com as empresas investigadas na operação Lava-Jato, as grandes fundações de previdência fechada passam a ser estratégicas para financiar investimentos privados no país, principalmente os voltados para infraestrutura. Segundo a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), os fundos de pensão responderam por cerca de 33% do volume total negociado no mercado de capitais em 2013 e, com as entidades investindo cada vez mais em participações em grupos de controle de grandes empresas e em fundos de private equity.

Para o presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, os investimentos deste tipo, por terem um perfil de longo prazo, atraem o interesse dos fundos. “Nada melhor do que os fundos de pensão para investir em infraestrutura porque eles podem pensar em longo prazo”, diz o executivo. Ele explica que os fundos já têm papel importante no financiamento ao setor privado, colaborando com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros agentes públicos no aporte de recursos de vários projetos. “Quase todas as grandes obras de infraestrutura em execução no Brasil contam com fundos de pensão ou consórcios de fundos de pensão dentre seus acionistas majoritários”, explica, lembrando ainda que “os fundos de pensão podem contribuir ainda mais para o aumento do investimento no Brasil”.

Pena Neto acrescenta que os fundos de pensão também têm contribuído com “Outra medida dessa relevância é a participação dos fundos de pensão em 13,7% da dívida pública, que ganha, assim, melhores condições de ser financiada num horizonte de prazo mais longo.”, afirma.

Segundo o presidente do fundo de pensão Petros, a fundação de previdência dos empregados da Petrobras e outras empresas do setor petroleiro, Carlos Costa, além de infraestrutura, no ano que vem o País também deve apresentar boas oportunidades de investimentos nos setores de educação e commodities. “Independentemente do momento, a Petros avalia constantemente boas oportunidades. As decisões em 2015 vão depender das mudanças no cenário econômico, da aprovação das políticas de investimentos e da relação risco/retorno/liquidez de cada investimento disponível no mercado”, diz.

Costa ressalta ainda que esses investimentos contam com risco baixo e rentabilidade segura, aderente aos compromissos de pagamento de benefícios de aposentadoria de fundo de pensão. “Além disso, ajudam a solucionar gargalos em setores estratégicos para o país como os de mobilidade urbana, ferrovias, estradas e logística, favorecendo a atividade econômica. Esses investimentos propiciam, ainda, crescimento econômico baseado no tripé sustentabilidade, geração de emprego e aumento da renda, aspectos relevantes para a expansão da previdência complementar”, diz.

Para o presidente da Petros, as perspectivas econômicas para o próximo ano são positivas, com as sinalizações do governo de que serão feitos os ajustes necessários na condução da política econômica. “De maneira geral, acreditamos em uma melhora do cenário econômico. O mercado reagiu bem aos nomes que irão compor a equipe econômica. O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem experiência tanto no mercado financeiro quanto no setor público”, pondera.

Em ano de governo novo, a expectativa é de que a presidente Dilma Rousseff possa mudar o comando dos principais fundos de pensão do País. “Depende do que está no estatuto de cada um. Geralmente, quando há mudança de governo, muda alguma coisa”, diz Neto, ressaltando ainda que o ideal seria uma escolha por conhecimento de mercado e, não política. “Nós defendemos sempre a estabilidade. Os gestores deveriam ser nomeados ou eleitos pelos participantes do mercado e não pela vinculação política. É preciso competência para gerir os fundos de pensão e entender de passivo. Esperamos que as mudanças necessárias, se houver, levem esses aspectos técnicos de qualificação em conta”, pondera.

Costa explica que na Petros os mandatos da diretoria executiva são renováveis anualmente por ocasião da reunião do conselho deliberativo para aprovação das demonstrações contábeis, que ocorre até o fim do primeiro trimestre de cada ano.

O executivo da Petros lembra que os principais desafios para o setor este ano foram a volatilidade do mercado e as incertezas no cenário econômico internacional. “Ainda que o mercado venha demonstrando sinais de recuperação, com destaque para os títulos públicos vinculados à inflação, que vêm superando a meta atuarial, a previsão é que continue volátil até o fim do ano”, diz.

Para 2015, o executivo avalia que os efeitos da nova política econômica e a queda dos preços das commodities, como petróleo e minério de ferro, que também têm impacto direto no desempenho da economia brasileira, são algumas variáveis importantes para se acompanhar no próximo ano. Outro aspecto relevante é a crise no setor de energia. “Se o País não passar por um período de chuvas forte e duradouro, o preço da energia vai continuar alto e isso impactará o crescimento da economia brasileira”, conclui.